sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Kenji Mizoguchi (1898–1956)




Kenji Mizoguchi foi um realizador e argumentista japonês, nascido em Tóquio, a 16 de Maio de 1898, e falecido em Quioto, a 24 de Agosto de 1956.

Mizoguch era filho de um modesto carpinteiro. Circunstâncias económicas adversas obrigaram o seu pai a vender a sua irmã mais velha para se tornar uma gueixa. Esse acontecimento afectou profundamente a visão de mundo de Mizoguchi ao longo de toda a sua vida. Manteve uma feroz resistência contra o seu pai pelo tratamento que este dava à sua mãe e irmã durante toda a sua vida.

Deixou a escola com treze anos para trabalhar e estudar artes gráficas. O seu primeiro trabalho foi como designer publicitário em Kobe. Estreou-se na indústria cinematográfica em Tóquio, como actor, em 1920. Três anos depois, tornou-se um realizador bastante conceituado da Nikkatsu Corporation.

Os primeiros trabalhos de Mizoguchi foram exploratórios, principalmente adaptações de Eugene O'Neill, Tolstói e remakes do Expressionismo Alemão. Nestes primeiros trabalhos, Mizoguchi trabalhou rapidamente, por vezes produzindo uma série de filmes em semanas. Isso explica como conseguiu realizar mais de cinquenta filmes entre 1920 e 1930, a maioria dos quais se perderam.

Vários dos seus filmes posteriores foram "keiko eiga", ou seja, "filmes propagandísticos", nos quais Mizoguchi explorou as suas "tendências socialistas" e modelou as suas mais famosas marcas e preocupações. Mais tarde, Mizoguchi persistiu em dizer que a sua carreira como "realizador sério" não havia começado até "Sisters of Gion" e "Naniwa Elegy", ambos de 1936.

Nos seus filmes desta época, Mizoguchi começou a ser considerado um realizador neo-realista". Esses filmes eram considerados como documentos sociais de um Japão em transição do feudalismo para o modernismo. "O Conto dos Crisântemos Tardios" (1939) ganhou mesmo um prémio do Departamento de Educação. Tal como os dois filmes inicialmente citados, este último explora o papel secundário da mulher numa sociedade injustamente machista. Durante este tempo, Mizoguchi também desenvolveu a sua famosa aproximação cinematográfica de "um plano por cena".

A meticulosidade e autenticidade do seu cenógrafo Hiroshi Mizutani em muito contribuiu para o uso frequente de "lentes altamente distorcidas" nos filmes de Mizoguchi. Durante a guerra, Kenji foi forçado a "trabalhar" para o governo militar como publicitário; O seu filme mais famoso desta época foi um remake do clássico "Samurai Bushido" chamado "The 47 Ronin" (1941), um drama histórico épico (rekishi geki).

Mizoguchi foi redescoberto no Ocidente particularmente por críticos como Jacques Rivette. Depois de uma fase inspirada pelo sufrágio feminino japonês - que produziu filmes radicais como Victory of the Women (1946) e My Love Has Been Burning (1949);  Mizoguchi voltou-se para o jidai-geki — ou "período dramático", reconstituição de histórias do folclore japonês ou período histórico — juntamente com o escritor, e seu colaborador de longa data, Yoshikata Yoda.

De aproximadamente 100 filmes que desenvolveu, apenas dois — Tailes of the Taira Clan (1955) e Princess Yang Kwei-Fei (1955) — são coloridos. Mizoguchi morreu em Quioto, de leucemia, com 58 anos, na época em que já tinha sido reconhecido como um dos três mestres do cinema japonês, ao lado de Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa. De acordo com a sua memória, fez ao todo 75 filmes, embora a maioria dos seus primeiros trabalhos tenham sido perdidos. Em 1975, Kaneto Shindo filmou um documentário sobre Mizoguchi intitulado "Kenji Mizoguchi: The Life of a Film Director".

O trabalho de Mizoguchi é caracterizado pela "protecção da imagem feminina". Foi considerado o primeiro grande realizador feminista, embora o público de hoje possa achar que os seus temas não se "identificam" com o conceito actual de feminismo. Mizoguchi revelou a posição feminina na sociedade japonesa como "humilhante e oprimida", e demonstrou que as mulheres podem ser capazes de actos de maior nobreza que os homens. Fez muitos filmes sobre os "problemas" das gueixas. No entanto, os seus protagonistas podiam ser oriundos de qualquer lugar: prostitutas, trabalhadores, activistas de rua, donas-de-casa e princesas feudais. Os seus filmes têm uma estética remanescente da arte japonesa. Prefere planos longos, encenação pictórica, raramente utilizando o "close up" tão valorizado pelo cinema do Ocidente. Uma cena típica nos seus filmes pode demorar poucos minutos e dar ênfase à luminosidade e ao cenário — tal como o trabalho de Josef von Sternberg. A essa beleza formal somava-se o envolvimento do público com o tema, e à habilidade com que o realizador provocava simpatia pelos protagonistas. As suas melhores obras são extraordinariamente comoventes
.
Ficou conhecida também a obsessão de Mizoguchi por repetições de "takes", que, em muitos casos, se tornaram num pesadelo para as suas actrizes. A sua preferência por planos longos significava que não havia espaço para erros: conta-se que, em alguns casos, chegou a rodar cem takes de um mesmo plano. Kinuyo Tanaka, actriz que trabalhou regularmente com Mizoguchi, relatou que certa vez Mizoguchi lhe pediu que lesse uma "verdadeira biblioteca", como preparação para um papel.




Nota: o presente texto é uma adaptação de outros documentos constantes na Wikipedia e IMDB.


T O P    F I V E   (Recomendado)



As Irmãs de Gion (1936)

O Conto dos Crisântemos Tardios (1939)

A Vida de O'Haru (1952)

Contos da Lua Vaga (1953)

O Intendente Sansho (1954)






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