domingo, 13 de abril de 2014

Akira Kurosawa (1910–1998)





Akira Kurosawa - nascido em Tóquio, a 23 de Março de 1910, e falecido em Setagaya, a 6 de Setembro de 1998 - foi um dos cineastas mais importantes do Japão, sendo os seus filmes uma fonte de inspiração e influência junto de uma grande geração de realizadores em todo o mundo.

Com uma carreira de cinquenta anos, Kurosawa dirigiu 30 filmes. É amplamente considerado como um dos cineastas mais importantes e influentes da história do cinema. Em 1989, foi premiado com o Óscar pelo conjunto de sua obra, "pelas realizações cinematográficas que têm inspirado, encantado, enriquecido e entretido o público e influenciado cineastas de todo o mundo."

Akira, o mais novo de oito filhos de Shima e Isamu Kurosawa, nasceu num subúrbio de Tóquio a 23 de Março de 1910. Shima Kurosawa tinha 40 anos de idade na época do nascimento de Akira e o seu pai, Isamu, tinha 45. Cresceu numa família com três irmãos mais velhos e quatro irmãs mais velhas. Dos seus três irmãos mais velhos, um morreu antes de Akira nascer e um, o mais velho, já vivia fora do lar. Uma das suas quatro irmãs mais velhas também já havia deixado a casa para formar a sua própria família, antes de Kurosawa nascer. A irmã que nascera logo antes de Kurosawa, a quem ele chamava de "Pequena Grande Irmã", também morreu repentinamente após uma curta doença quando ele tinha 10 anos de idade.

O pai de Kurosawa trabalhava como director de uma escola secundária, dirigida por militares japoneses.A família Kurosawa descendia de uma linhagem de antigos samurais. Financeiramente, a família estava acima da média. Isamu Kurosawa gostava da cultura ocidental, dirigindo programas atléticos e levando a família ao cinema para ver filmes ocidentais, que , naquela época, começavam a aparecer nos cinemas japoneses. Mais tarde, quando a cultura japonesa se afastou dos filmes ocidentais, Isamu Kurosawa continuou a acreditar que os filmes foram uma experiência positiva de ensino.

Inicialmente, Kurosawa tentou ser pintor. Após se formar no Ginásio Keika, frequentou o Centro de Pesquisas de Arte Proletária no ano de 1928, com 18 anos. Essa investida pela pintura não teve sucesso, devido à falta de dinheiro, mas as suas características artísticas viriam a acompanhá-lo vida fora, durante toda a sua trajectória no cinema. Kurosawa pintava quadros como "storyboards" dos seus filmes. Mesmo assim, continuou fiel à sua paixão pelas artes, principalmente a literatura; de onde tirou inspiração para a grande maioria de suas obras.

Sofreu também grande influência do irmão, Heigo, quatro anos mais velho, na sua paixão pelo cinema. Heigo trabalhava como Benshi, uma espécie de "narrador de filmes" do início do século no Japão. Infelizmente, com o advento dos filmes sonoros a profissão de narrador tornou-se obsoleta, e Heigo viu-se sem emprego. Tal facto deprimiu tanto o irmão de Kurosawa que ele acabou por se suicidar com um tiro no peito esquerdo aos 22 anos de idade. Kurosawa demorou a aceitar o ocorrido, mas recuperou, alguns anos depois, ingressando de vez na carreira cinematográfica, quando,em 1936, viu um anúncio no jornal para um teste de assistente de realizador. Desde aí, não parou mais de trabalhar na sétima arte: entre 1943 a 1965 realizou vinte e quatro filmes.

O seu primeiro trabalho foi "Sugata Sanshiro" (1943) e o último foi "Depois da Chuva" (Ame agaru) ([1999) concretizado, postumamente, por Takashi Koizumi, um seu discípulo. Foi o introdutor do género "chambara" (samurai) no cinema, com temas como "a honra acima de tudo". 

Em 1971, sofrendo de fadiga mental, tentou, em vão, suicidar-se cortando os pulsos por mais de trinta vezes. Em 1985, o Festival de Cinema de Cannes homenageou-o pelo seu filme "Ran, os senhores da Guerra" que ele próprio considerava ser a "obra de sua vida". "Ran" foi baseado em adaptações da peça "Rei Lear", de William Shakespeare. Kurosawa também adaptou obras do russo Dostoiévski. Muitos dos seus filmes vieram a ser alvo de "remakes", quer na Europa, quer nos Estados Unidos.

Começou a sua carreira como assistente de realização. Durante cinco anos, trabalhou com inúmeros realizadores, mas a figura que foi mais importante para o seu desenvolvimento, de longe, foi Kajiro Yamamoto. Dos seus 24 filmes como assistente de realização, 17 deles foram sob a supervisão de Yamamoto. Muitos deles eram comédias encenadas pelo popular actor Kenichi Enomoto, conhecido como "Enoken." Yamamoto cultivou o talento de Kurosawa, promovendo-o directamente de terceiro assistente de realização para director assistente chefe, logo após um ano. A responsabilidade de Kurosawa aumentou, passando kurosawa a trabalhar em tarefas variadas como construção de cenários e desenvolvimento de filmes, locação de cenários, revisão de argumento, direcção de ensaios, iluminação, dobragem, edição, montagem e sub-realização. No último filme de Kurosawa como realizador assistente, "Horse", Kurosawa cuidou da maior parte da produção, visto que Yamamoto estava ocupado com as filmagens de outro filme.

Um importante conselho que Yamamoto deu a Kurosawa foi que um bom realizador precisava dominar a prática de escrever roteiros. Kurosawa logo percebeu que os ganhos potenciais dos seus roteiros (argumentos) eram muito mais altos do que ganhava como realizador assistente. Kurosawa, mais tarde, viria a  escrever ou co-escrever todos os seus filmes. Também, frequentemente, escreveu roteiros para outros realizadores. Esses roteiros extras serviriam para Kurosawa como uma alternativa lucrativa que durou bem até a década de 1960, época em que se tornou mundialmente famoso.

O reconhecimento internacional chegou em 1950, com o filme "Rashomon - Às Portas do Inferno", cujas filmagens começaram a 7 de Julho de 1950. Após extensos trabalhos em cenários naturais - florestas primitivas de Nara - as filmagens foram concluídas a 17 de Agosto. Apenas uma semana foi gasta com a pós-produção, prejudicada por um incêndio no estúdio. O filme foi, apesar de tudo, concluído, tendo estreado no Teatro Imperial de Tóquio a 25 de Agosto, passando a ser exibido em rede nacional no dia seguinte. Inicialmente, o filme recebeu críticas "mornas", com muitos críticos perplexos pelo seu tema e  tratamento único, mas tornou-se, no entanto, um sucesso financeiro moderado para a Daiei.

O filme seguinte de Kurosawa, produzido para a Shochiku, foi "Hakuchi" ("O Idiota"), uma adaptação do romance do seu escritor favorito, Fiódor Dostoiévski. O cineasta mudou o local da história da Rússia para Hokkaido, mas, apesar disso, é muito fiel à versão original, facto visto por muitos críticos como prejudicial para a obra. Uma edição imposta peloo estúdio encurtou a versão original de Kurosawa de 265 minutos (quase quatro horas e meia) para apenas 166 minutos, tornando a narrativa extremamente difícil de seguir. É considerado actualmente um dos trabalhos de menos sucesso de Kurosawa.. As críticas da época foram muito negativas, mas o filme teve um relativo sucesso nas bilheteiras, em grande parte devido à popularidade de uma de suas estrelas, Setsuko Hara.

Enquanto isso, sem o consentimento de Kurosawa, "Rashomon" foi inscrito no prestigioso Festival de Veneza, devido aos esforços de Giuliana Stramigioli, uma representante de uma empresa cinematográfica italiana no Japão, que viu e admirou o filme, convencendo a Daiei a apresentá-lo. A 10 de Setembro de 1951, "Rashomon" foi premiado com o mais alto prémio do festival, o Leão de Ouro, chocando não somente a Daiei mas também o mundo cinematográfico internacional, que, nesse período, não conhecia a tradição dos filmes japoneses de época.

Depois que a Daiei, embora por pouco tempo, exibiu uma versão legendada do filme em Los Angeles, a RKO Pictures comprou os direitos de distribuição de "Rashomon" nos Estados Unidos. A empresa fez uma aposta ambiciosa. Tinha lançado apenas um filme legendado no mercado americano e o único filme falado japonês lançado comercialmente em Nova Iorque foi a comédia de Mikio Naruse, "Tsuma yo bara no yo ni", em 1937: um fracasso de crítica e de público. Entretanto, a execução comercial de Rashomon, muito ajudada por boas resenhas de críticos e até mesmo do colunista Ed Sullivan, teve muito sucesso. Gerou 35 mil dólares nas primeiras três semanas num único cinema em Nova Iorque, um valor quase inédito na época. Esse sucesso, por sua vez, lançou a moda, nos Estados Unidos, da exibição de filmes japoneses, ao longo de toda a década de 1950, substituindo o entusiasmo então reinante pelo cinema neo realista italiano.

O filme foi também lançado por outras distribuidoras em França, Alemanha Ocidental, Dinamarca, Suécia e Finlândia. Entre os cineastas japoneses cujos trabalhos começaram a ganhar prémios em festivais e distribuição comercial no Ocidente estavam Kenji Mizoguchi (Saikaku ichidai onna, Ugetsu monogatari, Sansho dayu) e, um pouco mais tarde, Yasujiro Ozu (Tokyo monogatari, Sanma no aji) – artistas altamente respeitados no Japão, mas, antes desse período, quase totalmente desconhecidos no Ocidente. Gerações posteriores de cineastas japoneses que conseguiram a aclamação fora do Japão – de Nagisa Oshima e Shohei Imamura a Juzo Itami, Takeshi Kitano e Takashi Miike – foram capazes de passar pela porta a que Kurosawa foi o primeiro a abrir.

Em Dezembro de 1952, Kurosawa levou os seus roteiristas de Ikiru, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni, para morarem, durante quarenta e cinco dias, numa pousada a fim de criar o roteiro de seu novo filme, "Os Sete Samurais". Essa obra foi o primeiro filme de samurais propriamente dito, o género pelo qual ele se tornaria mais famoso. À simples história, sobre uma vila de fazendeiros pobres no período Sengoku, que contrata um grupo de samurais para os defender de um ataque iminente de "bandoleiros", foi dado um completo tratamento épico, com um grande elenco (consistindo na maioria por veteranos das produções anteriores de Kurosawa) e acção meticulosamente detalhada, estendendo-se por quase três horas e meia de duração.

Três meses foram gastos na pré-produção e um mês nos ensaios. As filmagens levaram 148 dias espalhados por quase um ano, interrompida por problemas de produção e financeiros e de saúde de Kurosawa. O filme finalmente foi lançado em Abril de 1954, meio ano depois da data de estreia original e quase três vezes acima de seu orçamento, tornando-o, na época, o filme japonês mais caro até então feito (no entanto, pelos padrões de Hollywood, era uma produção de orçamento modesto, mesmo para aquela época). 

O filme recebeu uma reacção positiva dos críticos e tornou-se um grande sucesso, rapidamente recuperando o dinheiro nele investido e "fornecendo" ao estúdio um produto que poderiam, e fizeram, lançar internacionalmente. Com o passar do tempo – e com os lançamentos nos cinemas e em vídeo da versão sem cortes – a reputação de Kurosawa cresceu continuamente, sendo hoje considerado, por alguns críticos, como o melhor filme japonês de todos os tempos. Em 1979, uma pesquisa junto críticos de filmes chegou à mesma conclusão.

Os três filmes que Akira Kurosawa gravou depois de "Os Sete Samurais" não conseguiram cativar o público japonês do mesmo modo que aquele filme conseguiu. O clima das obras do cineasta foi se tornando pessimista e obscuro, com a possibilidade de redenção através da responsabilidade pessoal, agora, muito questionada. Kurosawa reconheceu esse facto e, deliberadamente, optou por realizar, em seguida, um filme mais leve e divertido, enquanto se adaptava para o novo formato widescreen que estava ganhando popularidade no Japão. O resultado, "Kakushi toride no san akunin" ("A Fortaleza Escondida"), é um filme de comédia e aventura sobre uma princesa medieval, o seu leal general e dois camponeses que precisavam de viajar através das linhas inimigas a fim de voltarem para a sua região de origem. Lançado em Dezembro de 1958, "Kakushi toride no san akunin" tornou-se um enorme sucesso de bilheteira no Japão, para além de ter sido bem recebido pelos críticos. Hoje, é considerado uma das obras de menos peso de Kurosawa, embora permaneça popular, sobretudo porque é uma das grandes influências (como o próprio George Lucas confessou) da space opera, de 1977, imensamente popular, "Star Wars".

A 6 de Setembro de 1998, Kurosawa morreu de um derrame, em Setagaya, Tóquio, com 88 anos de idade. Foi sepultado no Anyo-jy Temple Cemetery, Kamakura, Kanagawa no Japão.




Nota: o presente texto é uma adaptação de outros documentos constantes na Wikipedia a e IMDB.


T O P    F I V E   (Recomendado)



Rashomon - Às Portas do Inferno (1950)

Os Sete Samurais (1954)

Yojimbo, o Invencível (1961)

Kagemusha - A Sombra do Guerreiro  (1980)

Os Senhores da Guerra (1985)



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