sábado, 5 de abril de 2014

Carmen Miranda (1909–1955)





Maria do Carmo Miranda da Cunha - nascida em Marco de Canaveses (Portugal), a 9 de Fevereiro de 1909, e falecida em Los Angeles (Califórnia), a 5 de Agosto de 1955 - mais conhecida como Carmen Miranda -  foi uma popular cantora e actriz luso-brasileira.

A sua carreira artística ocorreu no Brasil e nos Estados Unidos, entre as décadas de 1930 e 1950. Trabalhou também na rádio, teatro de revista, cinema e televisão, chegando a receber o maior salário até então pago a uma mulher nos Estados Unidos. Muito "avançada" para o seu tempo, Carmen Miranda - cuja imagem ficou para sempre associada aos "penduricalhos" ao pescoço e às frutas tropicais que lhe ornamentavam a cabeça - é considerada a pioneira do "tropicalismo", movimento cultural brasileiro dos anos 60. 

Carmen Miranda foi baptizada com o nome de Maria do Carmo Miranda da Cunha na igreja da freguesia de Várzea da Ovelha e Aliviada, concelho de Marco de Canaveses. Era a segunda filha do barbeiro José Maria Pinto da Cunha e de sua mulher, Maria Emília Miranda.. Passou a ser tratada por Carmen, já no Brasil, graças ao gosto que o seu tio Amaro tinha por ópera.

A emigração da família para o Brasil já estava marcada. Entretanto, ao ver-se grávida, a mãe de Carmen preferiu aguardar. Pouco depois do seu nascimento, o seu pai, José Maria, emigrou para o Brasil, tendo-se instalado no Rio de Janeiro. Em 1910, a sua mãe, Maria Emília, seguiu o marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda, e de Carmen, que tinha menos de um ano de idade. Carmen nunca voltou ao país onde nasceu. no entanto,\a câmara municipal de Marco de Canaveses deu o seu nome ao museu municipal da terra.

No Rio de Janeiro, o seu pai abriu um salão de barbeiro na rua da Misericórdia, número 70, em sociedade com um conterrâneo. A família estabeleceu-se no andar por cima do salão. Mais tarde, mudaram-se para a rua Joaquim Silva, número 53, na Lapa.
No Brasil, nasceram os outros quatro filhos do casal: Amaro (1911), Cecília (1913-2011), Aurora (1915 - 2005) e Oscar (1916).

Carmen estudou na escola de freiras Santa Teresa, na rua da Lapa, número 24. Teve o seu primeiro emprego aos 14 anos numa loja de gravatas, e, mais tarde, numa chapelaria. Contam que foi despedida por passar o tempo cantando, mas o seu biógrafo Ruy Castro diz que ela cantava por influência da sua irmã mais velha, Olinda, e que assim até atraía mais clientes.

Nesta época, a sua família deixou a Lapa e passou a residir num andar na Travessa do Comércio, número 13. Em 1925, Olinda, acometida de tuberculose, voltou para Portugal para tratamento da doença, onde permaneceu até sua morte em 1931. Para complementar o rendimento familiar, a sua mãe passou a administrar uma pensão doméstica que servia refeições para empregados de comércio.

Em 1926, Carmen, que tentava ser artista, apareceu incógnita numa fotografia na secção de cinema do jornalista Pedro Lima, na revista Selecta. Em 1929, foi apresentada ao compositor Josué de Barros, que, encantado com seu talento, passou a promovê-la em editoras e teatros. No mesmo ano, gravou na editora alemã Brunswick, os seus primeiros discos como o samba "Não Vá Sim'bora" e o choro "Se o Samba é Moda". Pela editora Victor, gravou "Triste Jandaya" (grafia original) e "Dona Balbina" ou "Buenas Tardes muchachos".

No início, a sua carreira foi marcada por uma tímida actuação a solo e algumas interpretações em dueto com astros do porte de Chico Alves, Mário Reis e Sylvio Caldas. Mais tarde veio o cinema, que em 1933 leva a sua imagem e o seu "jeitinho esperto" de olhar para todo o país com "Luz do Carnaval", o primeiro de uma série de 19 filmes que marcaram a sua carreira.
Em 1926, apareceu como figurante no filme "A Esposa do Solteiro", e, quatro anos depois, assinou contrato para "Degraus da Vida", que não chegou a ser rodado.
Em 1932, fez parte do elenco de artistas de um documentário: "Carnaval Cantado", de 1932, no Rio"
Em 1933, canta as marchas "Good-Bye Boy" e "Moleque Indigesto", documentário nos moldes de "Carnaval Cantado".
Em 1934, canta duas músicas no filme "Alô, Alô, Brasil", tendo-lhe sido concedida a última apresentação do filme, geralmente dada ao artista principal.
Em 1935, recebe o epíteto de "A Pequena Notável", dado pelo célebre cantor-apresentador César Ladeira, com quem trabalhou na Rádio Mayrink Veiga.
Com o sucesso do filme, foi convidada para participar, em 1935, no filme "Estudantes", pela primeira vez como protagonista. O êxito do filme levou a Cinédia a convidá-la para um novo filme: "Bonequinha de Seda". Carmen, por algum motivo não elucidado - provavelmente viagem à Argentina - acabou por não aceitar o papel, que foi depois oferecido a Gilda de Abreu.
Em 20 de janeiro de 1936, estreou o filme "Alô, Alô Carnaval" com a famosa cena em que Carmen e Aurora Miranda cantam "Cantoras do Rádio". Neste mesmo filme, canta uma música a solo no palco. No mesmo ano, as duas irmãs passaram a integrar o elenco do Casino da Urca, propriedade de Joaquim Rolla. A partir de então, as duas irmãs dividiram-se entre o palco do casino e digressões frequentes pelo Brasil e Argentina.
Quase todos os musicais tiveram como tema o Brasil e o carnaval, mas foi o filme "Banana da Terra", de 1939, que instaurou o estilo que consagrou Carmen Miranda no mundo todo. Carmen apareceu interpretando "O que é que a Baiana Tem?", de Dorival Caymmi, usando as famosas roupas de baiana, turbantes, as altíssimas sandálias de plataforma e os inúmeros colares e pulseiras
Depois de uma apresentação para a estrela de Hollywood Tyrone Power, em 1938, aventou-se a possibilidade de Carmen vir a fazer uma carreira nos Estados Unidos. Carmen, que recebia o fabuloso salário de 30 contos de réis mensais no Casino da Urca, não se mostrou muito interessada na ideia.
Só que, em 1939, o empresário norte.americano Lee Shubert e a atriz Sonja Henie assistiram ao espectáculo de Carmen no Casino da Urca. Depois de um outro espectáculo no transatlântico Normandie, Carmen acabou por assinar contrato com o empresário. A execução do contrato não foi imediata, pois a cantora fazia questão de levar o grupo musical Bando da Lua para a acompanhar, mas o empresário estava apenas interessado em Carmen. O impasse foi resolvido graças à intervenção de Alzira Vargas, que garantiu o embarque dos integrantes do Bando da Lua. Carmen partiu então para os E.U.A., no navio SS Uruguay, a 4 de Maio de 1939, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial..

Protagonista de uma carreira meteórica, Carmen conseguiu uma projecção internacional como nenhuma outra artista luso-brasileiro logrou antes alcançar, primeiro na Argentina e noutros países da América Latina, para depois "conquistar" os Estados Unidos, Europa e o resto do o mundo.

Nos Estados Unidos, a carreira de Carmen Miranda e a sua imagem ganharam novas conotações. Carmen foi inicialmente contratada para trabalhar na Broadway, fazendo performances musicais em grandes teatros e casas de entretenimento, mas, em 1940, começou a actuar também na indústria cinematográfica, sempre acompanhada, nos palcos e nos filmes, pelo Bando da Lua. Com os filmes de Hollywood, Carmen sedimentou sua popularidade no país e se tornou uma estrela internacional.

Em 29 de Maio de 1939, "estrelou" a revista musical "The Streets of Paris" com a dupla de comediantes Abbott & Costello ,primeiro em Boston e em seguida na Broadway, com êxito estrondoso de público e crítica. As suas participações teatrais tornaram-se também cada vez mais famosas.

A 5 de Março de 1940, actuou perante o presidente Franklin D. Roosevelt durante um banquete na Casa Branca. Neste mesmo ano, fez a sua primeira aparição no cinema norte-americano em "Serenata Tropical" ("Down Argentine Way"), da 20th Century-Fox, em que Carmen apenas canta. O filme estreou em Outubro e bateu recordes de bilheteira.

Em pouco tempo, teve participações em programas de grande audiência, cantando músicas como "Mamãe Eu Quero", "Tico-tico no Fubá", "O que é que a Baiana Tem?" e "South American Way", tornando-sen um fenómeno também nos EUA. Em 1945, tinha mesmo o maior salário de Hollywood, acima de nomes como Cary Grant e Humphrey Bogart. O figurino extravagante e peculiar, inspirado nas roupas das tradicionais baianas, ganhou o apelido de "Miranda Look" em Hollywood, na década de 40. Os seus turbantes e balangandãs foram copiados e expostos nas vitrinas de lojas. Como cantora, vendeu mais de 10 milhões de discos no mundo todo, ficando conhecida como "The Brazilian Bombshell" ("A Explosão Brasileira"), numa alusão ao frenesi que causava com as suas apresentações.

A exótica baiana agradou imenso aos norte-americanos, mas despertou polémica entre os brasileiros,, pois achavam que as suas vestes estilizadas e o arranjo de frutas tropicais que carregava na cabeça – marcas definitivas de sua imagem – acabavam por expor ao mundo uma visão caricata e estereotipada do Brasil. No auge da “política da boa vizinhança” entre os Estados Unidos e a América do Sul, a sua imagem latina era explorada pelos estúdios até à exaustão. Tal exposição internacional fez despertar na intelectualidade brasileira um certo sentimento de desprezo pela sua figura.

Numa apresentação no Casino da Urca, com a presença de políticos importantes do Estado Novo, foi apupada pelos que a consideravam "americanizada". No entanto, entre os seus críticos havia muitos que eram simpatizantes de correntes políticas contrárias aos Estados Unidos.~

Dois meses depois, Carmen voltaria ao mesmo palco e foi fartamente aplaudida por uma plateia mais afeita ao seu repertório, então já actualizado com respostas como "Disseram que Voltei Americanizada", especialmente composta por Vicente Paiva e Luiz Peixoto, com quem, no mesmo mês, gravou os seus últimos discos no Brasil.

Fabricada pelos filmes da 20th Century Fox, a sua imagem acabou por se tornar num inconveniente para si própria. Carmen percebeu que estaria aprisionada a imagem da “Garota Latina” para sempre. Como contratada da Fox, Carmen era uma mina de ouro para a companhia, que a obrigava a forçar um sotaque latino caricato, mesmo falando inglês perfeitamente. Nos filmes - grandes musicais luxuosos em Tecnicolor – tão estonteantes quanto o seu figurino – Carmen tanto podia interpretar uma brasileira, quanto uma mexicana, cubana, porto-riquenha ou até uma cigana. Mas ela era sempre a garota latina. 

Entre os actores com quem contracenou, estão nomes importantes da antiga Hollywood, como Alice Faye, Betty Grable, Jane Powell, Elizabeth Taylor, Vivian Blaine, Don Ameche, Dean Martin, John Payne e Cesar Romero.

De 1940 à 1953 actuou em 14 filmes em Hollywood e nos mais importantes programas de rádio, televisão, casas nocturnas, casinos e teatros norte-americanos. A "Política de Boa Vizinhança", implementada pelos Estados Unidos para buscar aliados na Segunda Guerra Mundial, incentivou a imigração de artistas latino-americanos. Apesar de Carmen ter obtido o sucesso nos EUA muito antes da implantação desta política (o personagem Zé Carioca de Walt Disney esta muito mais associado a isto), acabou por se tornando o modelo mais bem sucedido do projecto. .

No fim dos anos 40, Carmen fez uma digressão por toda a Europa: fez uma longa temporada no Teatro London Palladium em Londres, batendo recordes de público, e até chegou a receber simbolicamente as chaves da cidade de Estocolmo, capital da Suécia.

A consagração chegou em 1941, ao ser a primeira e única luso-brasileira até hoje, a gravar as mãos e "plataformas" no cimento do passeio da fama do Teatro Chinês, em Los Angeles. Em 8 de Fevereiro de 1960, ganhou uma estrela póstuma no Passeio da Fama da Hollywood Boulevard. Carmen era a principal atracção do Copacabana Night Club, famosa boate nova-iorquina, fundada em 1940 e que existe ainda hoje em Manhattan. O cartaz do "The Copa" é, desde aquela época, uma gravura estilizada de Carmen, em homenagem a cantora.

Carmen Miranda tornou-se um "hit" nos EUA. Apareceu em desenhos animados Tom & Jerry, Popeye e Looney Tunes37 . Foi imitada e caricaturada por Lucille Ball, Bob Hope, Jerry Lewis, Mickey Rooney e Dean Martin. A imagem de Carmen era muito forte, cómica, engraçada, caricata. 
Acabou por um\criando um verdadeiro estereótipo, o que nem sempre é positivo. Mesmo assim, foi sem dúvidas foi a artista latina mais bem sucedida nos EUA em Hollywood, e lá sua imagem ainda hoje é mais forte do que no Brasil.

Em 1945, Carmen era a artista mais bem paga de Hollywood e a mulher que mais pagava imposto de renda nos EUA. Em 17 de Março de 1947, casou-se com o americano David Alfred Sebastian, nascido em Detroit a 23 de Novembro de 1908. Antes, Carmen namorou vários astros de Hollywood e também o músico brasileiro Aloysio de Oliveira, integrante do Bando da Lua.

Antes de partir para os Estados Unidos e antes de conhecer o marido, Carmen namorou o jovem Mário Cunha e o bon vivant Carlos da Rocha Faria, filho de uma tradicional família do Rio de Janeiro. Já nos EUA, Carmen manteve casos com os actores John Wayne e Dana Andrews.

Em 1945, Carmen teve um breve relacionamento com o piloto da FAB Carlos Niemeyer. Conheceram-se por acaso em Los Angeles, Niemeyer tinha ido aos Estados Unidos com um grupo de oito soldados levar aviões da FAB para concertos, o romance durou cerca de um mês, até Carlos voltar ao Brasil.

O casamento é apontado, por todos os biógrafos e estudiosos de Carmen Miranda como o começo de sua decadência moral e física. Seu marido, David, antes um simples empregado de produtora de cinema, tornou-se "empresário" de Carmen Miranda e conduzia mal os seus negócios e contratos. Também era alcoólico e pode ter estimulado Carmen Miranda a consumir bebidas alcoólicas, das quais ela logo se tornaria dependente. O casamento tinha entrado em crise já nos primeiros meses, por conta de ciúmes excessivos, brigas violentas e traições de David, mas Carmen Miranda não aceitava o divórcio, pois era uma católica convicta. Engravidou em 1948, mas sofreu um aborto espontâneo depois de uma actuação e não conseguiu mais engravidar, o que agravou as suas crises depressivas e o abuso de bebidas e remédios sedativos.

Desde o início da sua carreira americana, que Carmen fez uso de barbitúricos para poder dar conta de uma agenda extenuante. Adquiria as drogas com receitas médicas pois, na época, podiam ser legalmente ser receitadas pelos médicos, sem muitas preocupações com efeitos colaterais. Nos Estados Unidos, tornou-se dependente de vários outros remédios, tanto estimulantes quanto calmantes. Por conta do uso cada vez mais frequente, Carmen desenvolveu uma série de sintomas característicos do uso de drogas, mas não percebia os efeitos devastadores, que foram erroneamente diagnosticados como estafa (cansaço) por médicos americanos.

A 3 de Dezembro de 1954, Carmen regressou ao Brasil, após uma ausência de 14 anos, viajando e fazendo shows pelo mundo, para além de ter vivido nos EUA. Continuava casada e sofrendo com o comportamento do marido, cada vez mais alcoólico e violento. O seu médico brasileiro constatou a sua dependência química e tentou desintoxicá-la. Carmen ficou quatro meses internada em tratamento numa suíte do hotel Copacabana Palace. Melhorou, embora não tenha abandonado completamente os remédios. Os exames realizados no Brasil não constataram alterações de frequência cardíaca.

Ligeiramente recuperada, regressou para os Estados Unidos em 4 de Abril de 1955. Imediatamente, começou a fazer inúmeras\apresentações. Fez uma tournée por Cuba e Las Vegas, entre os meses de Maio e Agosto, e voltou a usar barbitúricos, além de fumar e beber mais do que antes.

No início de Agosto de 1955, Carmen gravou uma participação especial no programa televisivo do comediante Jimmy Durante. Durante um número de dança, sofreu um ligeiro desmaio, desequilibrou-se e foi amparada por Durante. Recuperou e terminou o número. Na mesma noite, recebeu amigos na sua residência em Beverly Hills (Bedford Drive, 616). Por volta das duas da manhã, após beber e cantar algumas canções para os amigos presentes, Carmen subiu para o seu quarto para dormir. Acendeu um cigarro, vestiu um robe, retirou a maquilhagem e caminhou em direcção à cama com um pequeno espelho na mão. Um colapso cardíaco fulminante derrubou-a, tendo sido encontrada morta, pela mãe, no chão do quarto,  no dia 5 de Agosto. O seu corpo foi encontrado pela mãe. Eram 10h 30 da manhã. Tinha 46 anos.




Nota: o presente texto é uma adaptação de outros documentos constantes na Wikipedia a e IMDB.


T O P    F I V E   (Recomendado)



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Uma Noite no Rio (1941)

Férias em Havana (1941)

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