segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Abbas Kierostami (1940 - 2016)





Abbas Kiarostami - nascido em Teerão (Irão), a 22 de Junho de 1940 , e falecido em Paris (França), a 4 de Julho de 2016) foi um poeta, cineasta, roteirista, produtor e fotógrafo iraniano. Obteve diversos prêmios internacionais, entre os quais se destacam a Palma de Ouro de 1997, pelo filme "O Sabor da Cereja", e o Leão de Ouro do Festival de Veneza de 1999, por "O Vento nos Levar-nos-á".

Após concluir a licenciatura em Belas-Artes pela Universidade de Teerão, resolveu dedicar-se à cinematografia, primeiro como assistente de realização, depois como realizador.

Em 1966, convidado por Ebrahim Forouzesh (nascido em 1939), director do Kanun (Instituto para o Desenvolvimento Intelectual da Criança e do Adolescente) para assumir a presidência do departamento de cinema da instituição. O Kanun - criado pela Shahbanu Farah Diba, a esposa do Xá Reza Pahlevi - inicialmente para produzir livros infantis, acabou por envolver praticamente todas as áreas da produção cultural iraniana. Mas será no departamento de cinema que a instituição produzirá os seus resultados mais notáveis - mesmo (e sobretudo) depois de 1979, ano em que ocorreu a Revolução Islâmica.

Em 1970, Kiarostami estreia-se como realizador, com a curta-metragem "Nan va Koutcheh" ("O Pão e o Beco). Rapidamente, o cineasta se destaca, combinando um tratamento realista e, ao mesmo tempo, poético da sociedade iraniana. Em "Mossafer" ("O Passageiro", 1974), constroi uma brilhante parábola sobre um rapaz que abandona a sua aldeia natal e percorre sozinho perto de 500 quilómetros para ir assistir a um jogo de futebol em Teerão.

Contudo, o filme que projectou a sua carreira a nível internacional foi "Khane-ye Doust Kodjast?" ("Onde Fica a Casa do Meu Amigo?"), de 1987, que narra a história de um menino do vilarejo de Koker que foge de casa para procurar um companheiro de turma, numa aldeia vizinha, na ânsia de lhe devolver um caderno. A partir daí, os filmes de Kiarostami passaram a ser presença constante em grandes festivais de cinema: "Zendegi va digar hich" ("E a Vida Continua") , de 1991, filme em que um cineasta e o seu filho viajam de Teerão para o vilarejo de Koker, duramente atingido pelo sismo de 1990, em busca de sinais de vida dos dois jovens actores do filme anterior - "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?". 

Em "Através das Oliveiras", de 1994, o cineasta retoma uma ramificação do trabalho anterior. No filme, um realizador de cinema tem de escolher actores para um filme (justamente "E a Vida Continua"). Encontra um rapaz e uma rapariga que farão o papel de marido e mulher. Na vida real, porém, os dois se amam, mas há um obstáculo: são de classes sociais diferentes. A rapariga sabe ler e tem casa; o rapaz é analfabeto e mora numa tenda (a sua casa tinha sido destruída pelo terramoto). Ao colocar a tensão que marca a relação entre os dois namorados, Kiarostami está, obviamente, falando do Irão, da tensão entre a tradição (casamento arranjado, impermeabilidade das classes sociais) e uma modernidade possível. É por volta dessa época que os seus filmes deixaram de ser exibidos nas grandes salas de cinema do Irão.

Os três filmes ("Onde fica a Casa do Meu Amigo?", "Vida e Nada Mais" e "Através das Oliveiras") são referidos pelos críticos como a Trilogia de Koker.

Apesar de, eventualmente, os seus filmes evocarem a estética do neorrealismo italiano - sem dúvida uma influência - não existe em Kiarostami, segundo o crítico Carlos Alberto Mattos, o apelo ao melodrama típico do cinema neorrealista. Certamente a presença de crianças é um ponto em comum, mas o tratamento dado por Kiarostami à narrativa e às imagens não utiliza os mesmos recursos de linguagem que consagraram o movimento nas décadas de 1940 e 1950. Na verdade, segundo Mattos, o realizador iraniano não se enquadraria em nenhum tipo de cinema já "inventado", mas apenas no seu próprio - algo como um "kiarostamismo".

Em 1997, Abbas Kiarostami vence a Palma de Ouro do Festival de Cannes com "Ta'm e Guilass" ("O Sabor da Cereja") filme centrado na figura de um taxista suicida que tenta encontrar alguém que proceda à sua sepultura. Durante a cerimônia de premiação, Kiarostami beijou a actriz Catherine Deneuve. O beijo que, mais tarde, ele descreveria como "desastroso", provocaria uma grande polêmica no seu país, obrigando-o a adiar o seu regresso ao Irão.

O seu projecto seguinte voltou a merecer reconhecimento mundial: "Bad ma ra khahad bord" ("O Vento Levar-nos-á") de 1999, procura retratar a vida quotidiana de maneira pouco convencional. O filme foi agraciado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Em seguida, Kiarostami enveredou pelo campo da longa-metragem documental, com "ABC Africa" (2001), onde trata da questão da Sida (AIDS).

Nunca deixando de ser um realizador visionário, procurou, seguidamente, apresentar uma nova visão da mulher iraniana contemporânea em "Dez" (2002), um filme profundamente marcado pelo intimismo e pela discussão filosófica. O filme inteiro foi rodado com câmaras fixas, no interior de um carro, e não havia roteiro.

Em 2005, recebe o Leopardo de Honra, no Festival de Locarno, pelo conjunto da sua obra. Nesse mesmo ano, a sua obra seria tema de uma grande retrospectiva na Grã-Bretanha. Já então era considerado como um dos realizadores mais importantes do mundo. Contudo, no seu próprio país, os seus filmes haviam deixado de ser exibidos em grandes salas desde 1995. O seu trabalho era visto com desconfiança pelo governo e considerado potencialmente subversivo. Em Abril, durante uma entrevista à Reuters, em Londres, declarou: "O meu plano não é testar os limites da censura". Embora afirmasse que um filme como "Dez" não tem mensagem política directa, o filme inclui uma motorista de táxi que se divorciara do marido e aceita uma prostituta como passageira. Em dado momento do filme, a personagem grita: "As leis podres desta nossa sociedade não dão direitos às mulheres!" Mas, segundo ele declarou na época, "'as autoridades não têm problemas comigo ou com os meus filmes. Elas têm um problema é com o público dos meus filmes. Isso é porque esse público, como grupo, representa uma força. É por isso que ele é visto como possível problema." 

Além da censura moral do governo, o cinema iraniano também era atingido pelas dificuldades económicas do país (as pesadas sanções económicas decretadas pelos Estados Unidos, inflação, desemprego). "Nos últimos 28 anos não foi construído um único cinema no país", lembrou Kiarostami, durante a mesma entrevista.

"O cinema começa com D. W. Griffith e termina com Abbas Kiarostami"
 — Jean-Luc Godard, Cinérama

Em consequencia dos problemas com a censura e das dificuldades de financiamento, cineastas independentes do chamado Novo Cinema Iraniano passaram a recorrer a financiamentos estrangeiros, o que lhes permitia exibir os seus filmes fora do Irão. Naturalmente, havia também o risco de o filme não obter permissão para ser exibido no próprio Irão, uma vez que não havia acordos oficiais de cooperação cinematográfica com outros países. 

Em 2010 dirige Juliette Binoche e o tenor britânico William Shimel em "Cópia Certificada", filme no qual apresenta a sua dissertação sobre a arte no mundo contemporâneo. Em 2012, dirige o seu último filme no Japão. "Like Someone in Love" é inteiramente falado em japonês, idioma em que Kiarostami não era fluente.

Embora mantivesse residência no Irão, Abbas Kiarostami deslocava-se frequentemente para trabalhar em França, onde conseguia rodar as suas obras e trabalhar sem as restrições da censura do regime do seu país natal. Muitos dos seus filmes são co-produções franco-iranianas, também em decorrência da escassez de recursos para se fazer cinema no Irão. Kiarostami costumava dizer que uma árvore transplantada da sua terra mater nunca mais dará os mesmos frutos.

Abbas Kiarostami morreu a 4 de julho de 2016, aos 76 anos, devido a um cancro. A sua morte foi anunciada pela agência de notícias oficial do Irão, ISNA. De acordo com a agência, foi-lhe dignosticado um cancro gastrointestinal em Março de 2016. Estava em Paris para o tratamento. Kiarostami passara por uma série de cirurgias no mês anterior, segundo a ISNA.


Filmografia (como realizador)

 2016 Take My Home (Short) 
 2016 Víctor Erice: Abbas Kiarostami: Correspondencias 
 2013 Venice 70: Future Reloaded (Documentary) 
 2012 Like Someone in Love 
 2010/I No (Documentary short) 
 2010 Cópia Certificada 
 2008 Shirin 
 2007 Kojast jaye residan (Documentary short) 
 2007 Cada Um o Seu Cinema (segment "Where is my Romeo?") 
 2006 Roads of Kiarostami (Documentary short) 
 2006 Rug (Short) 
 2005 White Pages (Short) (supervisor) 
 2005 Tickets 
 2004 10 on Ten (Documentary) 
 2003 Five Dedicated to Ozu (Documentary) 
 2002 Dez 
 2001 ABC Africa (Documentary) 
 1999 O Vento Levar-nos-á 
 1997 Tavalod-e Nur (Documentary short) 
 1997 O Sabor da Cereja 
 1995 Lumière et compagnie (Documentary) 
 1995 À propos de Nice, la suite (segment "Repérages") 
 1994 Através das Oliveiras 
 1992 E a Vida Continua 
 1990 Close-Up 
 1989 Mashgh-e Shab (Documentary) 
 1987 Khane-ye doust kodjast? 
 1984 Avaliha (Documentary) 
 1983 Dandan Dard (Short) 
 1983 Hamshahri (Documentary) 
 1982 Hamsarayan (Short) 
 1981 Be Tartib ya Bedoun-e Tartib (Short) 
 1980 Behdasht-e Dandan (Short) 
 1979 Ghazieh-e Shekl-e Aval, Ghazieh-e Shekl-e Dou Wom (Documentary) 
 1978 Rah Hal-e Yek (Short) 
 1977 Az Oghat-e Faraghat-e Khod Chegouneh Estefadeh Konim? (Short) 
 1977 Bozorgdasht-e mo'Allem (Short) 
 1977 Gozaresh (as Abbas Kiorastamu) 
 1976 Lebassi Baraye Arossi 
 1976 Rangha (Short) 
 1975 Dow Rahehal Baraye yek Massaleh (Short) 
 1975 Man ham mitounam (Short) 
 1974 O Passageiro 
 1973 Tadjrebeh 
 1972 Zang-e Tafrih (Short) 
 1970 Nan va Koutcheh (Short) 




Nota: o presente texto é uma adaptação de outros documentos constantes na Wikipedia e na IMDB.


T O P    F I V E  (Recomendado)


Close-Up (1990)

O Sabor da Cereja (1997)

O Vento Levar-nos-á (1999)

Cópia Certificada (2010)

Like Someone in Love (2012)




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